Costumo dizer que se há um projeto em que não podemos nos dar ao luxo de não tentar todo o possível para que ele dê certo é um projeto chamado filhos.

Explico.

Se, por qualquer motivo, fizermos uma escolha desastrosa do ponto de vista profissional, isto sem dúvida é péssimo, mas vamos encontrar alternativas para solucionar este problema. Podemos ser infinitamente tristes com a má escolha, mas ela é passível de alterações, mudanças de rumos.

Por pior que seja, se nos deparamos com um projeto que desenvolvemos ou com uma prática profissional que está muito aquém de nossa capacidade, ainda assim, talvez tenhamos uma segunda chance para nos revermos e recuperarmos esta situação.

Se os rumos de nossa vida afetiva não são como dos livros ou das páginas coloridas das revistas e está longe de ser o ideal, sem dúvida isto é muito ruim e fonte de enorme sofrimento. Talvez não seja de resolução simples (quase nunca é), e tenhamos enorme dificuldade em lidar com isso. Mas ainda assim, pode ser passível de mudanças.

Mas com filhos, um sinal de alerta se acende.

Porque este é um projeto em que não podemos nos dar espaço para o desenvolvermos pela metade. É um projeto que exige toda a nossa energia, todo a nossa força criativa, todo o nosso empenho para que tudo dê certo.

Não temos qualquer garantia de que, ainda assim, no futuro, todo este investimento dará certo. E aqui cabe a reflexão do que é dar certo ou não, mas, no senso comum, ou, no nosso íntimo, sabemos o que é dar certo para nós. Ou seja, sabemos quando nossos filhos estão no caminho certo, no rumo do bem ou quando algo vai errado.

Como não temos a certeza do resultado, só podemos nos cercar da certeza de que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para que ele desse certo. Só podemos ter a certeza de que colocamos toda a nossa energia para que este projeto de longuíssimo prazo recebesse todo o cuidado para que desse certo. Esta é a única e reconfortante certeza que temos o privilégio de carregar conosco mesmos: a de que fizemos todo o possível para que este ser, que depende tanto de nós, recebesse toda a atenção para crescer seguro e confiante.