Sempre me identifiquei com aquele moço que gira pratinhos. Habilmente, olhando sempre para o alto, correndo de um lado para o outro, sem nunca (ou quase nunca deixar nenhum deles cair).
Acho que é porque girá-los exige um determinado tipo de habilidade que às vezes eu pareço ter e outras vezes sequer imagino como ser possível fazê-lo. Sempre intrigante.
No cotidiano, rodamos muitos pratinhos. Todos nós nos empenhamos em ser bons: bons pais, boas esposas, bons maridos, bons profissionais. Éticos, politicamente corretos. Tentamos comer bem, nos exercitar, evoluir. Corresponder.
Outro dia, com esta imagem na cabeça, conversava com uma amiga sobre a difícil tarefa de equilibrar a todos, quando ela me disse: ‘não equilibre todos; escolha o que irá cair.’ Me ative a esta reflexão e ainda hoje ela me ampara.
Sempre que me vejo tentando, em vão, equilibrar todos os pratinhos e vendo que, inevitavelmente algum irá cair, paro, me atenho a todos eles, escolho um deles e dou o veredicto: ‘’hoje você irá cair”. Não é sem sofrimento, porque muitas vezes não queremos deixar aquele pratinho cair, mas o que que muda é a perspectiva da intencionalidade. E a possibilidade da escolha. É a liberdade e o livre-arbítrio que entram em cena, que nos dão autonomia para escolher. Nos dão tranquilidade, porque não deixamos cair qualquer pratinho. Escolhemos aquele que irá cair e acompanhamos a sua queda. E, como nos preparamos para ela (quase sempre) sua queda não nos causa espanto e conseguimos nos manter mais íntegros com sua inevitável perda. E esta atitude evita quedas que poderiam quebrar pratos irremediavelmente. Porque quando nos permitimos escolher, também podemos repor, colocar novos pratos em seu lugar no futuro. Mas quando não escolhemos o prato que irá cair, ou, recaindo sobre nosso corrido cotidiano, quando não escolhemos que pedaço dos nossos compromissos não iremos cumprir, qual atividade que iremos perder, tudo é sofrimento e angústia. A escolha nos dá tranquilidade. A escolha nos oferece a real oportunidade de nos apropriarmos de nós mesmos.
Com isso, vem também o peso da escolha, mas ele sempre nos acusa menos do que a ‘não escolha’.
E o que isto tem a ver com o “Depois do Sinal”?
Muitas vezes é preciso fazer escolhas intencionais. Para que nossos filhos não sejam o pratinho que cai inadvertidamente.
Muitas vezes é preciso colocar na balança (ou na ponta da vara), todos os nossos papeis e ver o quanto de energia vem sendo colocada à disposição de nossos filhos e de seu desenvolvimento. Vale refletir em quais pratinhos colocamos nossa atenção em detrimento de outros. Não cabe aqui imprimir ordem de grandeza aos compromissos de cada um, nem emitir qualquer juízo de valor sobre as escolhas das pessoas. Mas cabe aqui a chamada à atenção do quanto nossas escolhas recaem intencionalmente para nossos filhos de forma integral. Sobre nossos filhos e suas imensas demandas. Vale aqui a ressalva de que nem todas as demandas devem ser atendidas, mas sim, se estão sendo efetivamente ouvidas. Se estão sendo consideradas e se elas ocupam um espaço verdadeiro em nossas vidas e em nossas agendas tão abarrotadas. Ou se não vale um indigesto, mas necessário, exercício de reflexão se este pratinho não deveria ficar sempre em pé, enquanto outros, neste momento, podem cair. Não se preocupe, como o moço que equilibra os pratos e recoloca outros no lugar, seremos capazes de substituir por outros no futuro. Enquanto isto, vale a reflexão do quanto não é importante manter os pratinhos dos nossos filhos em equilíbrio.