Temos ainda um longo caminho a percorrer para nos tornarmos um país de leitores, pois fatores como baixo poder aquisitivo de grande parte da população, a falta de bibliotecas públicas, o analfabetismo e a carência de políticas públicas de incentivo à leitura perdurou por décadas no Brasil.
Esta conjuntura desfavorável é agravada por dados apontados em pesquisas recentes, que demonstram o fato de que apenas 25% da população tem habilidades plenas de leitura e escrita. Para piorar a situação, em mais de 1.000 municípios pobres do país não há bibliotecas.
Um levantamento recente sobre os acervos que temos, incluindo centros de leituras alternativos organizados por associações de moradores, trabalhadores e igrejas (que em geral funcionam precariamente e têm poucos exemplares de portadores de textos), revelam que nossos acervos são insuficientes, porém, mostram que os brasileiros gostam, sim, de ler. O que existe é a falta de acesso ao livro e não falta de vontade.
Muitas escolas públicas de ensino fundamental têm bibliotecas em más condições, ainda assim, alunos de escolas com bibliotecas têm rendimento 13% superior ao daqueles que estudam em unidades sem recursos para leitura. No Brasil, estatísticas mostram que apenas 1% da produção editorial destina-se às bibliotecas. Nos estados Unidos, 30% dos livros editados são adquiridos pelos acervos públicos.
Mesmo para os que podem comprar livros, teriam que existir 5 vezes mais exemplares para atender os milhões de leitores brasileiros considerados ativos- que leram pelo menos 1 livros nos últimos 3 meses.
Durante décadas, os governos não formularam políticas públicas educacionais e culturais que formassem leitores.
Há ainda o problema e o desafio da promoção e difusão de livros, o que todas as editoras brasileiras vendem juntas é o mesmo que cada uma das 13 maiores do mundo vende individualmente. Faltam estratégias de marketing mais agressivas como por exemplo a utilizada na divulgação da sequência Harry Poter, da inglesa J. K. Rowlings, na qual foram usadas todas as ferramentas de divulgação disponíveis como anúncios na mídia escrita, programas de TV e outdoors. Crianças do mundo inteiro- inclusive do Brasil, deram novos destinos à mesada outrora gasta na compra de games e sorvetes.
Há boas ideias no mercado editorial que estão fazendo muito sucesso. É o caso de um editor de livros infantis de Santa Catarina, que viu suas vendas se multiplicarem depois que passou a vendê-los em lojas de artigos a R$1,99. O preço dos livros chega a 10 vezes mais do que isso, só que eles vendem porque estão ao alcance das pessoas. Elas podem vê-los, folheá-los e acabam comprando. Alguns livros passaram a ser vendidos através de catálogos de produtos cosméticos e chegaram às pessoas que não têm o hábito de ir a livrarias. O Clube do Livro e o Círculo do Livro, que também vendiam livros por catálogo fizeram um grande sucesso. O fato de nenhuma empresa ter assumido o filão deixado por eles, revela a falta de visão mercadológica.
O mito de que o livro é para poucos, consolidado no país, já no século XXI, quando começaram a surgir as editoras brasileiras ainda permanece na mentalidade de muitos editores. Esta ideia foi alimentada pelos mesmos interesses políticos e ideológicos que também conceberam a educação como privilégio para poucos. Mais tarde, educação e livros tornaram-se ameaças ao estado autoritário, e, mais uma vez, forma relegados a segundo plano nas políticas públicas.
O Brasil pode ser um país de leitores, desde que haja facilidade de acesso ao livro em bibliotecas, espaços públicos, escolas, etc. e políticas de alfabetização e criação do hábito de leitura.
Queremos saber a sua opinião: Qual a sua impressão sobre o setor de livros infanto-juvenil no Brasil?
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Texto baseado no artigo de Cida Capo de Rosa – Um País com Fome de Leitura, Revista Pátio. Contribuição da Pedagoga Vera Elena Gruenfeld